Breve
comentário místico sobre o filme “O Exorcismo de Emely Rose” e seu “segredo”
Por Mariano Soltys                                                                 
Filósofo, escritor e advogado

O filme é mesmo baseado em fatos reais, mas de outros exorcismos, como os que encontramos em arquivos e livros.  O equívoco é que a possessa falava espanhol, não aramaico ou grego, línguas citadas neste e preferidas por um inconsciente mistificador, em estado histérico ou mesmo de auto-hipnose.   Que a moça era epilética, um médico chegou a afirmar no começo do julgamento do padre, e, isso não pode ser matéria para a parapsicologia, uma vez que a explicação preferida é sempre a mais simples, como já relatou Quevedo.  Para quem teve contato por leitura dos casos relatados por Freud, logo percebe na personagem do filme uma histérica, como sintomas claros de paralisias, ataques nervosos, frente ao especial estado emocional ou mesmo trauma sexual, uma vez que a moça era de uma família de moral “rigidíssima”.  Antes das descobertas de Breuer, possivelmente essas moças histéricas fossem julgadas de possuídas por algum demônio, um entre uma meia dúzia de famosos, no caso do filme, Belial. O fato de que ela falava muitas línguas encontra inúmeros casos semelhantes nas pesquisas psíquicas e parapsicológicas, em especial por um fenômeno chamado de Xenoglossia (falar línguas), combinado com pantomnésia (memória de tudo), e ainda hiperestesia (sensibilidade de leitura de pensamentos por movimentos da corda vocal, sem fala), havendo casos na obra “A face oculta da mente”, de Quevedo (1968, p. 113 e segs), onde uma menina fala chinês sem qualquer contato com aquela língua, outra moça fala grego com citações de Platão, outra inventa uma língua nova, tudo fruto do inconsciente, não de demônios e espíritos do além.  Mesmo que a moça paranormal não falasse essas línguas, poderia captar por um terceiro, um professor conhecedor das mesmas, no caso por hiperestesia. No caso dos objetos se movendo, são claros fenômenos de telecinese (ou telergia, psicocinese), pois as coisas caindo, cobertores se movendo etc, revelariam tal fenômeno, sempre inconsciente e involuntário, da própria Emely. Falar em demônios é um pouco distante da verdade e da ciência, sendo pouco louvável ser utilizada essa tese pela advogada, a qual com tal ato ratificaria o crime de curandeirismo e charlatanismo, que seria a de sobrepor a ciência e provas observáveis por coisa que não se devem ligar a ciência, como a religião. A psicologia e psiquiatria resolveriam em parte o problema, talvez com necessidade de internação, o que não ocorreu pelo que observamos no filme.  O caso seria da parapsicologia, mas nenhuma referência foi feita a nova ciência. Se aceitarmos a teoria espírita, o caso seria de espíritos de mortos, de baixa vibração, brincalhões ou de um criminoso, querendo se vingar da moça ou de sua família. Um ocultista[1] veria no caso um clássico caso de íncubo, espírito que se aproveita sexualmente de jovens inocentes, ou mesmo um cascão astral ou Elemental, entidades diversas de espíritos de mortos. Casos semelhantes são citados por ocultistas como Marcelo Ramos Motta, em seu “Ataque e defesa astral”, onde uma moça sofre um ataque de magia negra, tendo fenômenos semelhantes ao de Emely Rose. Demônios são mais poderosos e não perdem tempo com moças inocentes, não sendo exorcizados por padre sem conhecimento mágico ou cabalístico.  Certo ramo da parapsicologia chamaria os espíritos de subpersonalidades e personalidades intrusas (Dr. Eleazar), as primeiras partes da própria jovem. O filme não inova e vale a pena pelo julgamento, que leva ao questionamento, apesar da ineficiente condenação.





[1]Ver obras de Stanislas de Guaita e Eliphas Levi, “Templo de Satã” e “Dogma e ritual de alta magia”.

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